Com instituições em frangalhos, Forças Armadas já praticam intervenção
10/02/2017 16:27:30

A manchete da imprensa para disfarçar a situação real é assim: “ES transfere poder de polícia ao Exército”. O que isso significa na prática? Significa que o ES está sob intervenção das Forças Armadas. Não por iniciativa dos militares, registre-se; mas pela incapacidade do governo local em resolver a situação dantesca criada pela quartelada da PM e pela paralisação da PC do estado. Ou seja, quem comanda a segurança pública no estado, nesse momento, não é o governador, nem seu secretário de segurança; é um general (no caso, um general de brigada).
A crise de segurança e governabilidade no ES (fruto da incúria do governo estadual local – que desdenhou as demandas de ordem trabalhista de uma categoria altamente poderosa – e pelo poder discricionário e de chantagem das instituições policiais ) é somente a ponta de um iceberg do caos no sistema de justiça criminal e, mais especificamente, no sistema de segurança pública (polícias e prisões). Já tratamos disso inúmeras vezes…
Há uma série de evidências, pipocando em vários estados, a comprovarem o descontrole, principalmente das polícias: paralisações decididas arbitrariamente, pequenos motins, desacato à ordem superior ( inclusive de governadores ) , invasão de espaços públicos, ações de caráter sindical (proibidas pela lei), líderes policiais na ativa e em parlamentos insuflando revoltas e rebeliões… Evidências que sugerem a possibilidade de uma quartelada mais ampla. Aí, sim, a intervenção das Forças Armadas poderá tomar uma dimensão nacional. Quem diria!
Isso, sem considerar o caos circunstancialmente tamponado nas prisões de vários estados da federação.
Num país onde não há confiança e respeito às instituições (contaminadas pela corrupção e gerenciadas por delinquentes de elite); onde campeia o discurso fascista, produzindo cenas de justiciamento real e simbólico; com indicadores abissais de criminalidade violenta; onde as regras basilares da democracia (mesmo procedimental) são vilipendiadas diuturnamente pelos membros dos três poderes… Este “estado de coisas” produz, entre outros graves problemas, o caos e a violência sistêmicos.
Se pelo menos o poder judiciário estivesse desacoplado desse mar de lama institucionalizado, teríamos alguma esperança na volta à normalidade democrática. Mas, o que vemos na prática é uma justiça seletiva e de coronéis.
E a atuação situação de promiscuidade envolvendo membros do governo e do sistema de justiça? Como pode, por exemplo, um indicado à mais alta corte da justiça – com graves acusações éticas, profissionais, etc. sobre os ombros – ser pego a banquetear com senadores mais sujos que pau de galinheiro num “barco do amor” em plena capital federal às vésperas de ser sabatinado ?
E, como se não bastasse tanto escárnio, a mídia, propagadora e promotora do golpe, a qualificar essa suruba política de “sabatina informal”… É escárnio o tempo todo!
Um presidente sem autoridade moral e ética; que gasta todo o seu tempo e esforço para tramar estratégias visando salvar a si mesmo e sua camarilha do processamento de denúncias e acusações das mais graves que pesam sobre o governo. Enquanto isso, o país pegando fogo.
É tanta vilania, tanta hipocrisia, tantos trombadinhas das elites política, econômica e judiciária sinalizando ao povo que estamos numa terra sem escrúpulos (onde a lei é usada discricionariamente pelos poderosos de plantão e a Constituição foi grosseiramente conspurcada n um golpe), que nem mesmo as polícias militares, doutrinadas a cumprirem as leis e respeitarem as regras e instituições já o fazem nesse país governado pela bandidagem.
Tais situações reforçam nas elites e nos segmentos ultraconservadores o sentimento de pânico, ódio, vingança, aumentando discursos e demandas intervencionistas e autoritários. Ingredientes que incitam a atuação das Forças Armadas, com a justificativa que conhecemos bem: manutenção da lei e da ordem.
O golpe abriu, de fato, a caixa de Pandora…
E todos sabemos o que isso significa, na prática…