Um outro olhar sobre a juventude
26/11/2015 15:56:07
Por Robson Sávio
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as mortes por causas externas correspondem a grande parcela de óbitos em, praticamente, todos os países. Essas causas ocupam sempre a segunda ou terceira colocação. Porém a sua distribuição quanto ao tipo de causa e sua concentração socioespacial é diversa.
No Brasil, o total de mortes por causas externas provocou no país cerca de 2 milhões de mortes de 1980 a 2000 – o equivalente à população de Brasília. Porém, o problema da violência não se limita aos homicídios: milhares de pessoas perdem suas vidas no Brasil por outras causas, como acidentes de trânsito e suicídios.
Fonte: DataSenado/SIM/DataSus (2010)
No caso dos jovens, maiores vítimas da violência, outros fatores de vitimização e risco juvenil estão relacionados ao enorme número de armas disponíveis (e sem controle estatal) nas mãos desse segmento e o adensamento do tráfico de drogas (motivando disputas sangrentas entre gangues), principalmente nas periferias das grandes cidades. Esses elementos associados contribuem para o aumento da morte dos jovens e respondem por altas taxas de letalidade dessa população. Há em nosso país, infelizmente, um genocídio da juventude negra, dado que esse segmento étnico-racial é o alvo preferencial da violência letal.

As políticas sociais e, dentre elas, as ações de segurança pública, principalmente as voltadas para a prevenção à criminalidade juvenil, não podem continuar a ratificar o preconceito que rotula os jovens como sendo um problema, pois se eles são os principais autores da violência (devido, entre outros motivos, a uma série de desvantagens socioeconômicas), são também as principais vítimas.
Sem romantismos, é necessário articular os programas e as políticas públicas focados nos adolescentes e nos jovens, com o objetivo de ouvir esses sujeitos, entender suas angústias e transformar suas reivindicações em demandas legítimas.
É preciso entender que não há somente um modelo e uma forma de vivência da juventude. Na verdade, existem juventudes, no plural, que vivem e labutam dentro de contextos sociais dos mais diversos.
Outra ação necessária é dar conta de que as novas configurações do mundo, da sociedade, das famílias supõem novos contratos sociais mais flexíveis e baseados na negociação, na compreensão, no diálogo, na valorização da diversidade e não mais na imposição de normas ditadas pelos adultos.
Existe uma reflexão de que é possível construir outro olhar sobre os jovens e as juventudes e reconhecer a importância de articular instituições públicas e sociais para dividir as angústias e as responsabilidades pelo crescimento sadio dos jovens. Para isso, é preciso ter a consciência das funções e dos limites das instituições, possibilitando a construção de políticas e ações de conjunto para garantir maior proteção às crianças, aos adolescentes e aos jovens.
Assim sendo, pensar na política pública de promoção à cidadania juvenil, baseada nos pressupostos dos direitos desse segmento populacional, implica restituir direitos à grande parcela da população (notadamente os mais pobres e, dentre esses, os jovens empobrecidos – maiores vítimas da criminalidade violenta) constrangida e amedrontada com o avassalador incremento da violência histórica, mas agravada nos últimos anos em nosso país.