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Vinte anos sem Jobim

10/10/2014 06:00:22

Jobim: o gênio de uma nota só.
Jobim: o gênio de uma nota só.

Por Carlos Ávila

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, conhecido por todos como Tom Jobim (1927/1994), nos deixou há vinte anos. O “maestro soberano” faz falta. Nossa música popular não é mais a mesma sem ele, sem a sua criatividade e a sua competência, sem a sua classe e a sua joie de vivre tipicamente carioca. Sua obra está à altura dos maiores cancionistas do século 20 – um Cole Porter ou um Gershwin, por exemplo. Jobim foi um músico completo (compositor, arranjador, pianista/violonista; e ainda improvisou-se cantor), uma figura rara em se tratando de MPB, assim como Pixinguinha.

Tom chegou “armado” para produzir a sua música. Estudou piano, primeiramente, com o maestro Koellreuter (o alemão que trouxe a música dodecafônica para o Brasil); depois com Lúcia Branco (com quem estudaram também os pianistas Arthur Moreira Lima e Nelson Freire) e com o espanhol Tomás Teran, que se radicou no Brasil. Nos estudos, “descobriu” Chopin e Debussy, e se apaixonou pela obra de Villa-Lobos, que chegou a conhecer. Somou a isso a audição de sambas e choros da velha guarda (Noel, Pixinguinha e outros) e o melhor do jazz norte-americano; a prática dos arranjos na gravadora Continental (com ensinamentos e toques de Radamés Gnattali) e o contato com Ary Barroso, Caymmi e muita gente mais. Depois deu o salto para a criação da bossa-nova ao lado de João Gilberto e dos parceiros Vinicius de Moraes e Newton Mendonça – uma grande geração (insuperável até hoje).

O musicólogo Brasil Rocha Brito, em estudo fundamental sobre a bossa nova, chama a atenção para a “Sinfonia do Rio de Janeiro” – “sequência de quadros musicais interpretados por diferentes solistas e conjuntos” –, de 1955, onde o “Hino ao Sol” (parceria de Tom com Billy Blanco) se destaca. Segundo o estudioso, esta seria “a primeira composição já integrada, mesmo por antecipação, na concepção musical que se iria firmar três anos depois: a bossa-nova”. Em 1958 sai o marcante LP “Canção do amor demais”, de Elizeth Cardoso, com músicas de Tom e Vinicius (e a batida no violão inovadora de João Gilberto, em duas faixas).O disco, com arranjos e regência de Tom, foi lançado pelo famoso selo Festa, do jornalista Irineu Garcia, que produziu diversos LPs com poetas brasileiros falando seus poemas.

Depois vieram os três LPs fundamentais de João Gilberto, com músicas e arranjos de Tom; e inúmeras outras gravações de clássicos do maestro (com letras de Vinicius, Newton Mendonça e Aloysio de Oliveira): “Chega de Saudade”, “Desafinado”, “Samba de uma nota só”, “Dindi”, “A Felicidade”, “Garota de Ipanema”, “Só tinha que ser com você” etc. A consagração mundial deu-se com LP de Tom com Frank Sinatra; os EUA – berço do elaborado e sofisticado jazz – curvando-se ante a inventividade musical brasileira.

Jobim faz, realmente, falta; o compositor de “Sabiá” e “Águas de Março” (obras-primas de nossa canção popular) era um craque. Sua “Garota de Ipanema” correu mundo, é a segunda música mais tocada/regravada em todo o planeta, depois de “Yesterday” dos Beatles. Dizem que, ao saber disso, o maestro comentou com seu característico bom humor: “Mas eles são quatro…”.

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