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O dia seguinte ao impeachment

15/04/2016 15:37:38

Por Robson Sávio Reis Souza

Não precisa ter bola de cristal para adivinhar. Por isso, vamos mostrar, bem didaticamente e em dez passos, como seria o day after ao impeachment, se isso ocorrer:

1. Se aprovado o impedimento da presidente Dilma, imediatamente, os oligopólios midiáticos, em uníssono, bradarão aos quatro ventos por uma trégua. Falarão que o novo presidente precisa trabalhar em paz para superar a crise e reequilibrar a economia destruída pelo “governo mais corrupto da história”.

2. Os pseudojornalistas que pautam a mídia, verdadeiros deformadores da opinião pública, serviçais da casa grande, escreverão em grandes editoriais que a economia não resistirá a uma nova perturbação da ordem. Que todos devem se acalmar até 2018, dando uma trégua ao presidente Temer. Comentaristas de economia, “globais”, dirão que o país precisa de paz para trabalhar com vistas a restabelecer a confiança internacional e salvar a economia.

3. Os homens da lei e da ordem, policiais e amplos setores do sistema de justiça, notadamente a justiça criminal, entrarão em cena para sufocar, em nome da tal lei e ordem, qualquer manifestação contrária ao governo ilegítimo.

4. Como presidente do TSE, o insuspeito ministro Gilmar Mendes não colocará em análise o processo contra a chapa Dilma-Temer, que poderia levar a perda do mandato do vice. Dirá que a justiça eleitoral deverá dar uma chance ao novo presidente e, portanto, não pode desestabilizar o novo governo. E conclamará, ironicamente: “o país não aguenta outra queda de presidente”.

5. Líderes religiosos entrarão em cena para pedir que o povo fique calmo; que prevaleça a paz (mesmo sendo a paz dos túmulos) e que todos devem rezar para o bem do país e, quiçá, do novo presidente.

6. Certamente, haverá um ministro da justiça “fortíssimo”, que controlará com mão de ferro a polícia federal. Provavelmente, o titular da pasta será um ex-ministro da defesa ou da justiça ou ex-presidente do STF.

7. Esse homem-forte, na pasta da justiça, atuará para sufocar a lava-jato. E, pactuado com Rodrigo Janot e Sérgio Moro, atuará para o abrandamento das ações de investigação de corrupção, com a desculpa esfarrapada que o país precisa de um novo tempo de paz e prosperidade. (A bem da verdade, o que apareceu até agora não representa 10% da corrupção que alavancou a eleição de boa parte dos congressistas, governadores, deputados estaduais…). Assim, a lava jato se tornará a grande moeda política no Congresso: em troca da sua flexibilização, os parlamentares suspeitos e investigados que votaram a favor do impeachment apoiarão, incondicionalmente, o novo governo.

8. Com o apoio da velhaca mídia, que também tem calças curtas quando o tema é corrupção e que pautará algo para desviar a atenção do povo, a lava-jato sairá das manchetes. Talvez, entrará para as páginas policiais, continuando a saga seletiva de caça às bruxas.

9. Tudo bem orquestrado, a maioria da população, que assiste as disputas políticas em curso sem se envolver e em “berço esplêndido”, será convencida que o melhor caminho é aceitar o novo presidente. E que o novo governo derrotará a corrupção, porque a “turma do PT” foi expurgada, como se esse partido fosse o único partido corrupto no país.

10. E muitos esquecerão que Temer, boa parte do PMDB, do PSDB, do DEM e outros partidos (cujos quadros são corruptos até o último dedo mindinho do pé) têm como objetivo justamente neutralizar a lava-jato.

Uma parte dos que apoiam o impeachment está totalmente ludibriada: pensam que o impedimento será a primeira ação antes da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, o que levaria o vice-presidente a perder o cargo, na sequência. Mas, não sejamos otários. Não nos deixemos enganar pela turma que sempre se locupletou às custas do erário. Passando o impeachment, fecharão as portas para quaisquer mudanças. A lava jato será encerrada e teremos um arrocho enorme, com perdas de direitos, principalmente trabalhistas, como nunca se viu na história deste país.

E, adivinhem quem serão aqueles a pagarem a conta? Certamente, os mais pobres.

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